sábado, 27 de novembro de 2010

Encontro vocacional





A Fraternidade do Noviciado Santíssima Trindade, acolheu as jovens Cristiane, Irlandia, Taise e Tatiane para mais um encontro vocacional que foi realizado nos 20 e 21 de novembro. Em clima de celebração do dia da consciência negra lembramos e celebramos a resistência de Zumbi dos Palmares e a luta de hoje dos povos negros e negras por uma vida melhor.


O tema do encontro sobre a História da Congregação, momento de conhecer para poder se apaixonar pelo carisma e confirmar o desejo de fazer uma experiência mais profunda. Assim com os slides preparados pelas noviças, ajudou a dinamizar este momento, fizemos uma contemplação do caminho percorrido pelas nossas primeiras irmãs o encantamento pela história foi expressado no rosto de cada uma das jovens.


Como momento de lazer saímos para conhecer o Museu Parque do Saber, um museu onde apresenta um teatro virtual, assistimos Kaluoka'Hina uma terra encantada onde nenhum ser humano conhece. Uma boa diversão! No domingo a vida das nossas três primeiras, foi inspiração para o momento de oração pessoal, onde cada uma expressou o seu desejo em continuar no caminho como discípula de Jesus Cristo a exemplo das nossas fundadoras



Para o próximo ano teremos como aspirantes três jovens: Cristiane, Irlandia e Tatiane rezemos para que o sim delas seja como o das nossas Irmãs. "Queremos ficar pra sempre."


Pela Equipe Vocacional
Irmã Patricia








sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Noticia que á irmã Carmela Panini trouxe do povo Haitiano e Dominicano



Queridas irmãs, aspirantes, simpatizantes e colaboradores,

Com certeza, na noite de natal fazia muito frio em Belém. A cidade, pobre e sem condições de hospedagem, recebeu, naqueles dias, muita gente (pobres, sem-teto, sem-chão, sem emprego, sem-eira-nem-beira e outros...) para se recensear. Uma dessas famílias-sem-nada hospedou-se numa estrebaria a fim de condividir o calor no aconchego dos animais e, assim, aquecer o recém-nascido, a mãe e o pai que haviam caminhado dias e noites na longa viagem de Nazaré a Belém.

Em nossos tempos, também acontecem situações semelhantes, como a do povo haitiano, vítima da injustiça social que os reduziu ao país mais empobrecido das Américas. Não bastasse isso, no dia 12 de janeiro deste ano, foi dizimado pelo forte terremoto que deixou pelo menos 200 mil mortos, 300 mil feridos, um milhão de desabrigados e destruiu a já precária infraestrutura do país. Hoje, cerca de 80% das pessoas sobrevivem abaixo da linha da pobreza e, desesperadamente, brigam por um prato de comida ou tentam deixar o país.

Religiosas/os da América Latina estiveram em Haiti e algumas continuam lá em solidariedade ao povo. Ir. Tereza Albanez e eu tivemos a graça, em outubro (na semana do anúncio da epidemia do cólera), de poder fazer uns dias de experiência em meio àquele povo. O que vimos? Fome estampada nos corpos magérrimos das pessoas, tanto de adultos quanto das crianças que, ao nos ver, de longe estendiam a mão implorando leite para os filhinhos ou água e comida... Vimos multidões de pessoas ao longo das ruas tentando vender alguma peça de roupa, algumas frutas, feixes de lenha... muitas pessoas mutiladas, com bengalas ou cadeira de rodas. Vimos milhares de tendas e barracas – uma “colada” na outra, cheias de gente sem água, sem alimentos, sem luz, sem condições sanitárias. As autoridades afirmaram que um milhão de pessoas está ainda debaixo de lonas e tendas. Vimos grande parte das casas, prédios, templos... ruídos ao chão e outras com grandes rachaduras. Olhando as multidões que perambulam desnorteadas, sem-eira-nem-beira, nos pareciam “ovelhas sem pastor”.


Mesmo assim, nesse complexo caótico, vimos muitos gestos solidários: pessoas abrigando vizinhos debaixo dos escombros que sobraram, pessoas partilhando cama, comida, carona ou cuidando de mutilados. Escolas e Colégios entulhando as salas de aula com a acolhida de alunos de outros complexos escolares que ruíram.

As três Irmãs brasileiras enviadas ao Haiti pela CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), realizarão seus projetos (meio ambiente, horta comunitária; Pastoral da Criança/Saúde e trabalhos manuais com grupos de mulheres no setor Canaã (uma ocupação com, aproximadamente, 40 mil acampados). Ao visitarmos os franciscanos OFM ficamos mutuamente felizes: nós com a notícia de que eles já estão desenvolvendo um projeto ecológico nessa ocupação; e eles por saberem que nossas Irmãs também escolheram aquela área para a missão. Encontramos também muitas pessoas de outros países prestando serviço voluntário e gratuito. Pessoas que escutaram os gemidos, tiveram compaixão e a coragem de ir ao encontro.

Em consequência da história de empobrecimento do país, muitas pessoas já não têm acesso a sequer um prato de arroz ao dia. Alimentam-se quase só de “biscoitos de barro” (argila, água, uma pitada de sal e um pouco de margarina). Após amassar os ingredientes, fazem as pequenas porções e as colocam para secar ao sol. As mulheres e as crianças os vendem nas ruas ou nos mercados e, com o trocado, compram leite para os bebês ou alimentos para a família. Disse uma jovem, com seu bebê no colo: “quando minha mãe não tem outra coisa para cozinhar nós nos alimentamos só com esses biscoitos, três vezes ao dia”. E acrescentou “mas os biscoitos me dão dores de estômago e diarréia e quando amamento até mesmo o bebê sofre de cólicas intestinais”.

Nossas irmãs que trabalham na fronteira Haiti e República Dominicana e que diariamente se deparam com a chegada de mais haitianos refugiados, têm nos ouvidos o constante gemido: “Estamos com muita fome, perdemos tudo: familiares, o casebre, a lavoura, os animais domésticos, a saúde... não temos sequer sementes para plantar...”.

Aqui no Brasil também tivemos, neste ano, regiões fortemente atingidas por vendavais, secas prolongadas, enchentes... Lembro especialmente do povo dos Estados de Alagoas e Pernambuco. Nós, Irmãs Catequistas Franciscanas, estamos presentes, de forma solidária, ajudando a população de Palmares (PE) na reivindicação de seus direitos sociais e de políticas públicas favoráveis, a fim de que recuperem o ânimo de viver.

O tempo de advento é sempre um período propício à solidariedade, à partilha e comunhão entre familiares, amigos, vizinhos e povo em geral. Nós, cristãos e cristãs, temos também o bom costume de fazer “campanhas de advento” em favor de pessoas empobrecidas, carentes e, de algum modo, necessitadas.

Nossa proposta é de fazermos, neste advento, em cada fraternidade e nas comunidades, a campanha do alimento: leite para os bebês e sementes de verduras e frutas, de feijão, milho e arroz... para semear. O resultado do dinheiro arrecadado será enviado, uma parte ao povo haitiano, refugiado na República Dominicana (onde nossas Irmãs estão em missão), e outra parte ao povo de Palmares. Será nossa expressão de NATAL SOLIDÁRIO com esses povos. Assim, a nossa partilha produzirá frutos e incluirá ao redor de nossa mesa pessoas que sobrevivem das migalhas. E nossos olhos verão não só uma noite feliz no céu, mas o amanhecer de um novo dia de paz na terra do Haiti e no chão de Palmares.

Se você quiser colaborar, fale com a pessoa que está coordenando essa campanha em sua comunidade.

Desejamos que nossa comunhão solidária nos ajude a celebrar a Boa Nova do Natal e seja fonte de VIDA para esse povo que quer viver!

A você e sua família,

um alegre e significativo NATAL e um abençoado 2011!

COM CARINHO

MARIA LUZ

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PALMARES: LUTA E RESISTÊNCIA!




“Sou excluído, não por natureza; sou excluído porque assim me fizeram as relações sociais que configuram a realidade onde vivo, o momento em que vivo. E também o discurso daqueles que sempre me desqualificaram” .

Estamos diante do silêncio e do clamor, entre ambos encontra-se o vazio, o distanciamento e a omissão. Damos-nos conta de que esta realidade, além de ser banalizada, é evitada pela consciência de quem não quer ver. O silêncio do poder público perante a sociedade palmarense é perceptível diante da realidade em que se vive, o pós enchentes. A cidade caiu no abandono e esquecimento, de todo os lados emergem os clamores pela água, pela limpeza pública, pela coleta de lixo, pela reconstrução das ruas, saneamento básico, habitação,... enfim, quem devia estar cuidando da população está se distanciando cada vez mais.
Nestes quase dois meses de convivência com o povo e principalmente junto aos abrigados que estão nas barracas, percebemos o quanto é difícil ter os seus direitos garantidos e o exercício da cidadania como a conquista de direitos. Pois, o que vemos em muitos casos é a banalização das pessoas enquanto cidadãos/ãs de direitos. Os quais têm o direito de serem assistidos pelo Estado, mas lhe são negados assistência digna, por uma assistência de faz de conta. Vêem estas pessoas como problemas e querem se livrar a qualquer custo. Assim, ficam aterrorizando-as, a cada quinze dias, para deixarem as barracas, senão vão perder o auxilio moradia, o direito ao trabalho na construção das casas, não vão mais receber comida, serão recolhidos os sanitários e banheiros, como se diz “ficarão ao léu da sorte”... Isso nos causa indignação, porque já é a quarta vez que vem ameaçando e muitas pessoas vão procurando outros lugares para morar. Outras ficam sem saber o que fazerem, angustiadas, aflitas... O querem destas pessoas que perderam tudo? Que saíram com a “roupa do couro”, como disseram muitas vezes. Querem massacrar, humilhar, abanalizar a vida destas pessoas, pois sabemos que o princípio fundamental dos direitos humanos é o direito à vida. Portanto, agir contra esse direito significa violar os princípios dos direitos humanos e estas pessoas estão sendo violadas a cada momento, quando não se oferece uma moradia digna, uma alimentação adequada, atendimento a saúde, favorecimento ao acesso a educação, a segurança, onde muitas barracas já foram arrombadas...
Se foram garantido seis meses de assistência pelo governo federal, por que esta insistência que as famílias deixem as barracas? Que garantia os mesmos tem se saindo do abrigo vão de fato receber as casas? Pois, têm famílias que na última enchente de 2000, estava na lista para receberem as casas e hora da distribuição ficou de fora. Então, como se diz “gato escaldado tem medo de água fria”, apenas a palavra não é garantia e certeza em nosso tempo. Assim, as famílias querem certeza que vão receberem as casas, não apenas cadastros e registros, os quais não lhes garante absolutamente nada, pois ainda tem mais de 30 famílias que não receberam auxilio moradia e nem outros, já se passaram quatro meses da tragédia.
Desta forma, para que amenize a angustia destas pessoas, partimos para uma ação junto ao Ministério Público. Porque o major, representante do Estado, está para dar assistência e auxilio aos abrigados, junto com a assistência social do município e uma ONG contratada pelo Estado ficam ameaçando as famílias que vão deixar de assisti-lo.
Assim sendo, muito nos alegramos quando vemos a teimosia e a resistência de Edílson, de Daniel, de Valéria, de Joelma, de Josias, Silene.... e tantos outros dizendo “não vamos sair daqui enquanto não tivermos certeza que vamos receber a nossa casa”. Mesmo enfrentando o sol que esquenta aquelas barracas em meio às britas, parece mais uma fornalha do que moradia de pessoas humanas. Enfrentam a chuva que mina água por baixo das barracas, pois vimos pessoas tirando água com um pote de dentro, pessoas se sujeitando comer comidas mal feitas, hora queimadas, hora mal cozida, gordurosas que só em olhar causa mal estar, sem dizer o feijão com bicho, dias que recebem para o almoço mortadela com arroz, outra novidade é a sopa de mortadela e assim sucessivamente, não dá para descrever tudo.
De fato, são pessoas que merecem nossa atenção, que alegria sentiram na reunião que tivemos dia 27 de outubro, com eles, e falamos que estamos sabendo de todo o sofrimento que os mesmos vem passando, que estamos acompanhando e que agora não dá mais para suporta a pressão, é hora de unirmos e ir ao Ministério Público saber de fato quais são os seus direitos, perante esta situação de ameaça que estão sofrendo e os deixando sem rumo. Edílson falou “mas o major disse que não íamos ter mais ninguém por a gente aqui e agora vem vocês, nós só queremos a certeza de nosso direito que saindo daqui vamos receber a nossa casa e que o major disse que nos temos apenas a palavra dele, a palavra dele não queremos”. Depois de tantos outros se expressarem, dissemos o caminho para sabermos é partimos para o Ministério Público, onde o promotor vai ouvi-lo e depois vai buscar esclarecimento para dar uma resposta a vocês. Assim, organizou-se uma comissão para o dia 29 irmos ao Ministério Público, como os pobres não têm muita sorte, o promotor não veio, no entanto deixamos um ofício, onde se encontra registrada todas as queixas dos abrigados e ficamos de retornar dia 3 de novembro. Pois, Ministério Público é um órgão do Estado, cuja função é defender os interesses do povo, os da Justiça e o da sociedade.
Portanto, enquanto profissional tenho a convicção que a intervenção de nossa atuação passa pela linha dos direitos se tornando o nosso instrumento de trabalho. Mesmo na sociedade regida pela desigualdade, onde se delimita como parcela da sociedade a qual é negado o poder e a palavra, onde os níveis de saber equivalem ao poder e controle social.
“A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana”.
Vinicius de Moraes

Marisa Ribeiro do Amaral
Irmã Catequista Franciscana
Assistente Social

Palmares-PE, 02 de novembro de 2010.

























Ao ritmo da floresta

Uma estrada de chão com muitos buracos e poeira, nos dá passagem. Atravessando povoados, queimadas, fazendas, mata branca e cocais de babaçu que, mesmo sofrendo a falta da chuva, continuam exuberantes, chegamos até a Terra Indígena Geralda/Toco Preto, do povo Krepum Kateyê.
Chegando à aldeia Sibirino, nos sentimos acolhidas pela tradicional organização circular das casas e pela alegria das/dos indígenas em nos ver. Logo chamaram dona Rosalina, a mais idosa do povo, que sentou-se ao nosso lado. Deram a notícia que nascera mais uma criança na aldeia. É o ciclo natural da vida, a convivência entre as gerações, passado, presente e futuro que se misturam e somam.
Saindo, fomos para a aldeia Geralda. As crianças deram um show de acolhida e presença! Nosso objetivo ali era ver os preparativos para o Encontro com as Mulheres Krepum para estudo da Lei Maria da Penha, que seria no dia seguinte. Numa conversa rápida, percebemos que a comunidade estava desarticulada...
À noite marcamos uma reunião, mas poucas pessoas adultas compareceram. As crianças, mais uma vez mostraram-se muito atentas e participativas, a ponto de fazerem uma pequena análise da situação da aldeia (desinteresse dos adultos em cuidar do coletivo, do ambiente como um todo...). A motivação das mulheres não estava lá estas coisas, mas os homens se prontificaram em pegar peixes para o almoço e ajudar no que fosse preciso para que o encontro pudesse acontecer.
No dia seguinte, a luz do sol e o canto dos pássaros nos despertaram cedo para dar continuidade à missão. As mulheres já estavam de pé, preparando a primeira refeição do dia, os homens já haviam saído para a pesca, a criançada e os jovens já estavam em prontidão para nos ajudar a arrumar o local do encontro. O espaço escolhido foi debaixo das árvores, à beira do rio Grajaú. Ali vivemos um grande mutirão: varrer as folhas, montar bancos de tábuas... água para beber...
Enquanto esperávamos as mulheres cantamos, brincamos com a meninada que volta e meia caiam na água, depois retornavam pulando, numa alegria sem fim! Elas expressavam o interesse que tem em crescer num ambiente sadio, em harmonia com a natureza; expressavam, também, alegria pela nossa presença, que valorizou sua criatividade, espontaneidade, curiosidade. Diante desta realidade que encontramos, percebemos o quanto temos que desconstruir o que programamos e construir a partir do que encontramos.
O tempo foi passando, as mulheres foram chegando... Uma bonita acolhida marcou a todas. Cantamos e ouvimos o relato bíblico do encontro de Maria e Isabel. Nós, mulheres estávamos ali para nos abraçar, nos confortar mutuamente, nos alegrar pela presença de cada uma...
Ao aprofundar a Lei Maria da Penha, as partilhas não foram muitas, mas o suficiente para percebermos que há conflitos, agressões e grande sofrimento na vida daquelas mulheres. As mudanças serão lentas.
Tudo foi acontecendo ao ritmo da floresta, a presença do sol, a chegada das mulheres, a pesca e o preparo do peixe, o envolvimento no tema do encontro...
Por fim, o estilo simples de vida deste povo nos provoca a entender o que há de transcendente, de belo, de renovador ao nosso redor e, assim, nossa vida vai se modelando e sendo construída diária e permanentemente. É um itinerário movido pelo Espírito, que nos questiona, impulsiona, anima e nos faz sair de nós mesmas para nos colocar a serviço da vida.
Estes e tantos outros acontecimentos provocam em nós uma maior adesão à missão que abraçamos, pois vamos descobrindo o sentido de nossa consagração.
Maria Lucélia Araujo da Silva
p/ Irmandade N.Sra. de Guadalupe
Grajaú-MA – 01/11/2010